LITERATURA INFANTOJUVENIL


A interdependência entre linguagem verbal e não verbal em diversos trabalhos de literatura infantojuvenil se mostra fundamental para a unidade de significação da obra, sendo esta inclusive um traço específico da literatura infantojuvenil. Esse é o caso de Flicts, publicado por Ziraldo em 1969. Sem a dimensão do trabalho gráfico e artístico de Ziraldo, reproduzimos abaixo apenas parte do belo texto de sua autoria.

 

Era uma vez uma cor muito rara e muito triste que se chamava Flicts.

Não tinha a força do vermelho, nem a imensa luz do amarelo,

nem a paz que tem o azul.

Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts.

(...)

Tudo no mundo tem cor

Tudo no mundo é

Azul

Cor de rosa

ou furta-cor

É vermelho ou

amarelo

Quase tudo tem seu tom

Roxo

Violeta ou Lilás

Mas não existe no Mundo

nada que seja "Flicts"

-nem a sua solidão-

Flicts nunca teve par

nunca teve um lugarzinho

num espaço bicolor

(e tricolor muito menos - pois

três sempre foi demais)

Não

Não existe no Mundo

nada que seja "Flicts"

Nada

no Mundo é "Flicts"

ou pelo menos quer ser

 

A partir desse trecho, analise as afirmativas a seguir.

 

I- A sonoridade do texto e o ritmo embalam a leitura de modo fluido e contagiante.

II- A expressão “Era uma vez” utilizada no início do texto retoma a tradição dos contos de fadas, de certa forma, inserindo o incomum Flicts na linha de personagens sem par na literatura, como uma espécie de Patinho Feio.

III- A princípio não há qualquer inovação na obra de Ziraldo, uma vez que linguagem verbal e não verbal são uma constante na literatura infantojuvenil.

 

Está correto apenas o que se afirma em:

 

 


I e III.


I e II. 


II e III.


I.


II. 

A respeito do status da literatura infantojuvenil produzida contemporaneamente e do mercado editorial brasileiro, analise estas afirmativas:

 

I- Não é de hoje que a literatura se vincula e dá mostras dessa relação entre produção literária, recursos tecnológicos e mercado.

II- O mercado livresco e a produção literária sempre se articularam desde os momentos mais tenros dessa relação. O aperfeiçoamento da tipografia e os avanços tecnológicos de impressão são evidências desse processo que já data de muito tempo.

III- A relação entre literatura e as condições de produção da sociedade são marcas do processo tecnológico contemporâneo somente, isso se confirma pelo grande índice de leituras feitas em plataformas digitais.

 

Assinale a alternativa correta:

 

 


Apenas I está correta.


I e II estão corretas.


Apenas III está correta.


Nenhuma das alternativas está correta.


Apenas II está correta.

Da pluralidade de títulos que compõem a literatura infantil contemporânea, alguns se encontram abaixo, exceto:

 

 


Desertos, de Roseana Murray


O caneco de prata, de João Carlos Marinho


Felpo Filva, de Eva Furnari


O menino, o cachorro, de Simone Bibian


O livro dos pontos de vista, de Ricardo Azevedo

A pluralidade de títulos de literatura infantojuvenil disponíveis aponta condições favoráveis para o florescimento desse cenário contemporâneo. Acerca disso, analise as afirmativas a seguir.

 

I- Existe uma dificuldade em se analisar o cenário atual devido à nossa imersão no presente, que borra um pouco a perspectiva crítica para análise de obras.

II- Os prêmios literários como Jabuti e Fundação Nacional do Livro Infantil e juvenil (FNLIJ) acabam por balizar o cenário atual, fornecendo caminhos para a seleção de títulos e compreensão crítica do cenário atual.

III- Algumas categorias do Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil são: Criança, Jovem, Poesia, Livro Brinquedo, Teatro e Reconto.

 

Assinale a alternativa correta:

 

 


Apenas II está correta.


Todas estão corretas.


Apenas I está correta.


Apenas II e III estão corretas.


Apenas III está correta.

Nessa fase de expansão da literatura infantojuvenil brasileira (1960 – 1980), não se identifica:

 

 


A revisão da infância como momento do maravilhoso apenas: a partir de então ela é compreendida como inserida e bastante sensível às questões sociais, como no caso de Pivete (1977), de Henry Correia de Araújo.

 


O desaparecimento, de um lado, das temáticas pátrias e autoritárias dos livros infantojuvenis, e a visão infantilizada e simplista do público jovem de outro.


A contestação de propostas que haviam sido trabalhadas na Semana de Arte Moderna, como a anticonvencionalidade da linguagem.


A busca por novas linguagens, a exemplo de obras como Flicts, dos poemas de Cecília Meireles e de Vinícius de Morais.


O diálogo e ao mesmo tempo a contestação do acervo de contos de fadas, a exemplo das obras de O reizinho mandão (1978), de Ruth Rocha, Chapeuzinho Amarelo (1979), de Chico Buarque, e História meio ao contrário (1979), de Ana Maria Machado.

A respeito da emergência de novos meios editoriais brasileiros ao fim do século XIX e início do XX é impossível afirmar:

 

 

 


O recurso de exploração contínua de repetidos personagens e temáticas pode ser identificado ainda hoje, a exemplo das séries Harry Potter.


O uso de estratégias de permanência de personagens e de histórias é identificado nesse período, especialmente pela revista Tico-Tico.


A revista Tico-Tico encontra-se nesse contexto de surgimento de mercado editorial brasileiro destinado ao público infantojuvenil.


Alguns selos editoriais começaram a ganhar importância na produção de obras destinadas ao público infantojuvenil, a exemplo da livraria Quaresma e seu selo editorial.


É apenas na metade do século XX que se pode reconhecer um movimento editorial brasileiro destinado à produção infantojuvenil.

Leia o trecho de Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, narrado pelo próprio Robinson, e assinale a alternativa incorreta.

 

 Sendo o terceiro filho da família, e sem formação em nenhum ofício, desde muito cedo minha cabeça começou a se encher de pensamentos errantes. Meu pai, que era muito idoso, deu-me a devida quantidade de instrução, até onde geralmente chega a formação em casa e numa escola gratuita de província, e me destinava ao Direito; mas a mim não me satisfaria nada menos que seguir para o mar, e essa minha inclinação me opôs com tanta energia à vontade, ou melhor, às ordens do meu pai, e a todas as admoestações e persuasões da minha mãe e outros amigos, que parecia haver algo de fatal naquela propensão da Natureza, conduzindo diretamente à vida de infortúnios que mais adiante haveria de me caber.

 

DEFOE, Daniel. Robinson Crusoé (Locais do Kindle 607-612). Penguin-Companhia. Edição do Kindle.

 

 


Nessa passagem, percebe-se um indício dos infortúnios que vão acontecer na vida do protagonista Robinson, dando força para a hipótese de errância anunciada em seus “pensamentos errantes”.


O naufrágio do personagem Robinson Crusoé e sua instalação em uma ilha podem ser entendidos como que prenunciados nessa passagem, especialmente nos trechos “mas a mim não me satisfaria nada menos que seguir para o mar” e “parecia haver algo de fatal naquela propensão da Natureza”.


Há evidências, no trecho, de que o personagem se mostra tipicamente um adolescente e, decorrente disso, pela associação do jovem leitor com a narrativa, tal romance se tornou um clássico da literatura infantojuvenil.


A não adequação do filho aos desejos do pai, que consistia na educação formal, o Direito, e na adoção de carreira mais previsível, provoca o conflito na narrativa, que se desenvolve seguindo uma espécie de chamado da “Natureza” por parte daquele personagem. 


O romance Robinson Crusoé pode ser entendido como uma obra que a princípio não se destinava exclusivamente ao público infantojuvenil, mas que foi ganhando o interesse de tal público ao longo dos séculos.

O trecho abaixo foi retirado da obra História social da criança e da família, do francês Philippe Ariès.

 

 

 

“A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor que ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela.” (ARIÈS, 1981, p. 6)

 

A partir da noção de infância e dos desdobramentos que ela implicou, assinale a alternativa incorreta.

 

 


O escritor tem o papel decisivo nesse embate entre a visão adulta que prevalece diante do universo infantojuvenil, cabendo a ele a produção de obras que não sejam da ordem do doutrinamento, mas da ordem da criação e da afirmação do poder das palavras.


A atenção voltada para o universo infantojuvenil é, no entanto, tocante apenas ao plano simbólico, uma vez que à criança não é dado de fato o poder de ação e de escolha.


A respeito do desenvolvimento de campos relacionados ao universo infantil, pode-se assinalar a presença massiva do brinquedo, do livro infantojuvenil, da psicologia infantil e da pediatria.


A literatura infantojuvenil participa desse aspecto paradoxal da ascensão da noção de criança e do jovem ao centro da atenção: ao mesmo tempo que é dada relevância a esse público, ele é apenas destinatário das produções realizadas por adultos.


A escalada em importância do universo infantojuvenil não implicou precisamente o desenvolvimento de uma literatura criada especificamente para esse público.

Considerando o trecho abaixo de “Borralheira ou A chinelinha de Cristal”, presente nos Contos de Mamãe Gansa, de Charles Perrault, assinale a alternativa incorreta:

 

 

“Era uma vez um fidalgo que se casou em segundas núpcias com a mulher mais arrogante e orgulhosa que já se viu. Ela tinha duas filhas da mesma laia, que se pareciam com ela em tudo. O marido, por sua vez, tinha uma filha jovem, dotada de meiguice e bondade sem igual; nisso tinha puxado à mãe, que era a melhor mulher do mundo. Nem bem acabou o casório, a madrasta já deu expansão aos seus maus bofes; não pôde suportar as boas qualidades da mocinha, que tornavam suas filhas ainda mais detestáveis. (...)”

 

PERRAULT, Charles. Contos de Mamãe Gansa (Locais do Kindle 666-670). L&PM Editores. Edição do Kindle.

 


Charles Perrault, ao adotar tal linguagem em seus contos, mostra-se a favor de um uso inventivo da língua e não tanto prescritivo, ao contrário de Boileau – defensor ferrenho da manutenção de certa tonalidade clássica na arte literária.


A passagem contém elementos de linguagem popular, com léxico que acentua a origem oral da narrativa e expressões que dão um caráter mais fluido ao conto.


As marcas de oralidade no conto representam uma crítica de Perrault ao uso da linguagem popular na literatura.


“Da mesma laia”, “que já se viu” e “seus maus bofes” são expressões utilizadas na versão brasileira, tradução bastante fiel do conto original em francês, as quais materializam esse apelo popular da linguagem.


O uso do termo “casório” sugere a presença do caráter popular no conto.

Leia a passagem abaixo e assinale a alternativa que está em desacordo com o que diz Cecília Meireles sobre a literatura infantojuvenil:

 

(...) tudo é uma literatura só. A dificuldade está em delimitar o que se considera como especialmente do âmbito infantil. São as crianças, na verdade, que o delimitam com a sua preferência (...) Não haveria, pois, uma literatura infantil a priori, mas a posteriori. (MEIRELES, 1979, p.19)

 


O que foi escrito para uma criança específica pode atrair várias outras, tal como ocorreu com as obras de François Fénelon – Fábulas, As aventuras de Telêmaco - e Lewis Carroll – Alice no País das Maravilhas.


A literatura infantojuvenil comporta apenas o conjunto de obras que foram produzidas tendo em mente a criança e o jovem, isto é, a produção define a priori o status de tal gênero.


Produções concebidas precisamente para o público infantojuvenil e que posteriormente façam sucesso com esse público também são previstas, mencionadas por Cecília Meireles.


Apesar de muitas obras não terem sido especificamente produzidas para o público infantojuvenil, ao lê-las, ocorre uma identificação muito significativa. Um exemplo disso é o que acontece quando esse público faz a leitura de lendas, mitos e contos. 


Ao público adulto, podem ter sido inicialmente destinadas algumas obras, como Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, e Fábulas, de La Fontaine, mas, em seguida, tais textos tiveram uma aceitação do público infantojuvenil.

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